sábado, 9 de março de 2013

Saberes docentes


O “SABER” DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

         Segundo o dicionário Houaiss, ‘saber’ implica ter conhecimento de, compreender, ter capacidade para, ter certeza de, julgar, considerar como, cultura, erudição. À essa definição composta por ações é preciso atribuir um sujeito;  assim a compreensão de ‘saber’ corresponde às atividades do sujeito, da relação deste com ele mesmo e com os outros.
         Pensando o saber como ações realizadas em conjunto, não seria apropriado dizer que para ser um bom professor basta ter domínio do conteúdo. Os saberes docentes vão além, e o maior desafio da atual docência universitária é exatamente este: o domínio dos saberes desprestigiados, tais como os pedagógicos - alicerçados na cultura e na construção da profissionalidade - e os apontados pelos estudiosos da educação Pimenta e Anastasiou, que além dos saberes do conhecimento e pedagógicos, acrescentam os didáticos e os da experiência do professor.  
         Gauthier (1998) e Tardif (2002) também discorrem sobre os saberes da docência e mencionam os saberes profissionais, disciplinares, curriculares, experienciais, das ciências da educação, da tradição pedagógica e da ação pedagógica, esses três últimos apontados somente por Gauthier.
         Considerando o professor como um profissional que adquire e desenvolve conhecimentos a partir da prática e no confronto com as condições da profissão, ressalto os saberes da experiência - mencionados por todos os estudiosos aqui citados – que, segundo Tardif (2000), são formados por todos os demais saberes, re-traduzidos, atualizados, “polidos” e submetidos às certezas construídas na prática. É neste momento em que teoria transforma-se em prática que começam as indagações: Como me tornar aberta para a construção de todos os saberes apontados por Gauthier, Tardif, Pimenta e Anastasiou, na minha futura atuação enquanto docente universitário?
         Pois bem, os saberes do conhecimento ou disciplinares - que remetem ao domínio do conteúdo a ser ensinado – tenho como o mínimo exigido para atuar como professora, seja numa escola de ensino fundamental, médio ou numa universidade, não obstante, procuro sempre buscar novos conhecimentos e atualizações.  Os saberes didáticos contemplam a metodologia do professor em sala de aula, é o momento em que se põe em prática a teoria de ensino; acredito que para cada situação contextualizada há técnicas de ensino, um método que pode ou não funcionar, a constante busca pela melhor didática a ser aplicada norteia meu trabalho como professora que almeja um ensino de qualidade. No que se refere aos  saberes pedagógicos, eles são testados na prática educativa, são de caráter investigativo e reflexivo no que tange a formação do ser humano, inerentes a esses saberes estão as ações de analisar, julgar e decidir, numa situação problema, pela melhor forma de conduzir o processo de ensino aprendizagem. Para o desenvolvimento desses saberes pedagógicos é preciso acreditar na prática educativa, sendo assim, considero-me pronta para esse aprendizado. Quanto aos saberes curriculares, eles já fazem parte da minha trajetória como docente, e acredito que são bem embasados, o que ajudará na minha atuação como professora universitária, uma vez que a prática em sala de aula é vinculada com os objetivos e métodos traçados pelo professor e pela instituição escolar. Já os saberes da ciência da educação, também chamados de saberes profissionais - transmitidos pelas instituições escolares de formação de professores – remetem ao saber ser professor, ou melhor, aos pressupostos teóricos do que é ser. Nada melhor que a prática docente para nos entendermos como educadores, ou não. Para a construção desse saber é preciso o embate entre teoria e prática. Por último, e não menos importantes, foram apontados pelos estudiosos em questão, os saberes da experiência do sujeito professor, que nada mais é do que a prática em sala de aula, a experiência com as situações de ensino aprendizagem, em que são revistas, redirecionadas e ampliadas as teorias sobre o ensinar. A maior dificuldade do docente de ensino superior é a construção desses saberes, pois não há uma preparação para a docência, mas sim para a pesquisa. Encontro-me apta para a prática da docência pelos anos de experiência em sala de aula, porém reconheço não estar segura para atuar como professora universitária, visto que os saberes são constituídos das relações entre sujeitos inseridos num mesmo contexto, no qual serão então construídos e assim aplicados.   
         Outra questão levantada em relação aos saberes é: Como articular os saberes propostos por Pimenta e Anastasiou, na minha atuação como docente universitária?
         Pensando na pedagogia como um saber que engloba todos os demais, ou seja, o saber do conhecimento, da didática e da experiência, a articulação dos mesmos se dará no momento em que minha prática em sala de aula estiver condizente com o meu “ver” a educação. Sendo assim, o conhecimento adquirido será didaticamente trabalhado e contextualizado num processo de ensino aprendizagem visando à construção do saber, podendo ser posteriormente aplicado o mesmo método de ensino em outra situação de aprendizado devido a experiência bem sucedida.
         Imaginando-me com uma experiência de cinco anos de docência universitária na área de língua portuguesa, arrisco dar um exemplo de cada um dos saberes propostos por Pimenta e Anastasiou:
         Saber da área do conhecimento: O uso de recursos coesivos na produção textual.
         Saber pedagógico: Direcionamento das atividades de acordo com o andamento da aula, respeitando as dificuldades de cada aluno.
         Saber didático: Apresentação contextualizada das dificuldades na produção escrita. Análise de erros nas redações de vestibulandos. Comparação entre redações avaliadas com nota máxima e redações que não atingiram a nota mínima exigida. Apresentação de alguns recursos coesivos. Correção de redações que apresentam problemas de coesão.
         Saberes da experiência do sujeito professor: A aula seria muito mais dinâmica e proveitosa se em uma aula anterior tivesse sido abordado o tema das dissertações apresentadas, desta forma seria mais fácil analisar os textos enquanto unidade de sentido. Uma possível proposta de produção textual em cima do tema ajudaria na exemplificação do conteúdo abordado.
Karen Schiller 

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